Três anos após perder o irmão em um acidente na BR-277, no interior do Paraná, Gelimar José da Cruz, de 38 anos, fechou a pequena transportadora da família e tenta reconstruir a vida. Ele lembra a violência sofrida pelo irmão, que morto na batida teve o corpo pisoteado por saqueadores.
"Não tem uma palavra para descrever esse tipo de coisa. Porque o mínimo é o respeito, não tem o mínimo de respeito pelo ser humano. Sei lá... Não dá pra dizer certo que vem na cabeça da gente", disse Gelimar.
Gelimar e o irmão Marcos Leite da Cruz trabalhavam juntos com entrega de autopeças até que a van que Marcou dirigia bateu de frente com um caminhão em Laranjeiras do Sul, na região central do Paraná. O motorista do caminhão ficou ferido.
Como se não bastasse a dor do luto, Gelimar viu, 15 dias depois da morte, as imagens que mostraram a violência contra o corpo do irmão.
"É complicado você vê eles fazendo qualquer coisa por coisa que não vale nada... Praticamente não vale nada”, disse Gelimar .
O acidente aconteceu em novembro 2020, e um grupo de indígena, segundo a Polícia Rodoviária Federal, saqueou a carga dos veículos envolvidos no acidente – um vídeo registrou a ação. Nem mesmo a presença dos policiais rodoviários federais impediu o crime. Um policial foi ferido.
Os policias rodoviários chamaram atenção dos saqueadores e pediram respeito em relação ao morto. Foi em vão, e os agentes precisaram tirar o corpo do local.
Gelimar lembra detalhes daquele dia. Ele conta que ficou sabendo da morte do irmão por um cliente e que foi difícil acreditar.
"Não tem explicação. É um desespero. Acho que ninguém está preparado para receber uma notícia dessa".
Quando estava a caminho do local do acidente, Gelimar viu o carro do Instituto Médico-Legal (IML) na rodovia e pensou que estava indo pegar o corpo do irmão.
Gelimar disse que no momento em que ele chegou no ponto da batida, o saque já havia ocorrido.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Federal, que ficou responsável pela investigação, mas não obteve retorno.
Os irmãos Gelimar e Marcos tinham uma pequena transportadora. Mas, depois do acidente, Gelimar decidiu encerrar o negócio.
“Não tinha cabeça, não tinha mais. É, como assim, lidar com tudo aquilo, não é? E sempre a mesma coisa. Tudo o que nós fazia, era o que ele fazia junto. E daí... Aí, resolvemos parar.”
Hoje Gelimar vive na área rural de Quedas do Iguaçu, no oeste do Paraná. “Estamos fazendo a vida de novo”.