Pelo menos 5,6 milhões de idosos moravam sozinhos no Brasil em 2019, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE. Com o aumento da longevidade, a telemedicina e o avanço da tecnologia, mais e mais pessoas acima dos 70 anos têm conseguido manter a autonomia, mas há momentos em que morar acompanhado ou mesmo buscar uma instituição pode ser o mais indicado.
Segundo a médica geriatra Ivete Berkenbrock, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), duas condições determinam se uma pessoa ainda pode morar sozinha: autonomia (capacidade de fazer escolhas e decidir seus atos) e independência (capacidade para executar suas escolhas). “A pessoa deve morar sozinha desde que seja uma escolha dela, e enquanto tiver condições”, diz a médica.
A opção por ficar na mesma casa após a perda do cônjuge, por exemplo, é uma tendência verificada nos consultórios. “O idoso prefere morar na casa onde sempre morou, onde tem mais individualidade. Mas às vezes tem a questão econômica. E muitos vivem sozinhos por descaso dos familiares mesmo”, afirma Ivete Berkenbrock. “Os estudos mostram que os idosos vivem sós em regiões de renda mais elevada, onde o acesso à tecnologia é mais fácil. A comunicação melhorou muito e telemedicina também ajudou”.
Hora de repensar
O sinal de alerta deve ser acionado quando a pessoa passa a ter limitações físicas ou mentais. “Percebemos na avaliação médica que as pessoas vão perdendo a capacidade de morar sozinhas, por doenças crônicas ou alguma fragilidade”.
Outro fator que pode afetar a capacidade de alguém morar sozinho é um problema crônico de saúde ou um incidente grave. “Se a pessoa está bem e sofre um AVC, não consegue mais cuidar da higiene sozinha ou fazer seu alimento, é hora de fazer uma escolha”, afirma Ivete Berkenbrock. “A própria pessoa pode ajudar a decidir, se não perdeu a autonomia. Se não tiver mais capacidade de escolher, a família vai ter que escolher por ela”.
A reação mais comum dos filhos é levar a pessoa para morar junto, o que depende de vários fatores. E muitas vezes pode não ser a melhor saída. “Aí entra a condição financeira e se a família tem condições de abrigar mais uma pessoa. Os filhos geralmente ficam fora o dia todo. A pessoa vai continuar sozinha e só está mudando de local”, alerta a geriatra.
Muitas vezes a pessoa não precisa de acompanhamento durante todo o tempo. Neste caso, podem ser contratados cuidadores e os familiares podem acompanhar a rotina do idoso com a ajuda da tecnologia. No mercado há relógios e pulseiras com botões de emergência, sensores de queda que podem ser usados junto ao corpo e alarmes sonoros que indicam a hora dos remédios. Também é possível instalar câmeras de monitoramento.
MAIS
Institucionalização
Há situações, no entanto, em que a família ou cuidadores já não são suficientes. Em casos de demência ou sequelas muito graves de um AVC, por exemplo, permanecer em casa (ou na casa de parentes) pode ser prejudicial para o próprio paciente. Além de levar a família ao desgaste emocional.
O primeiro grande desafio nesses casos, explica a presidente da SBGG, é vencer a barreira emocional e mostrar que uma instituição de longa permanência é a melhor alternativa. “Existe um sentimento de culpa, a pessoa sente que está abandonando alguém que cuidou dela. Mas muitas famílias não têm condições, às vezes emocionais, de cuidar de alguém com demência. Ou que precise de muitos cuidados”.
O papel do geriatra, diante de quadros mais graves, é explicar para os familiares que o abandono pode estar dentro da própria casa. “Esse abandono pode estar dentro da família. Conversamos muito e sugerimos que leve a pessoa para uma casa especializada. Muitas vezes as pessoas pediram para que nunca fossem internadas, mas o pedido foi feito em outro contexto”, avalia Ivete Berkenbrock.
Custo aparece como um problema para quem busca uma casa de repouso
Um problema para buscar uma casa de repouso para idosos é o alto custo. Em Curitiba, os valores mensais podem variar de R$ 2 mil a R$ 8 mil, dependendo do plano e dos cuidados necessários. Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) no Paraná, em Curitiba há 126 instituições privadas de longa permanência cadastradas na Fundação de Ação Social (FAS), da prefeitura de Curitiba.
“O ponto crucial é que as instituições públicas são muito poucas. Geralmente o cuidado fica para a família mesmo”, diz a presidente nacional da SBGG, a médica geriatra Ivete Berkenbrock. A FAS tem convênio com instituições públicas de longa permanência: Casa de Repouso Recanto Feliz, Lar dos Idosos Recanto do Tarumã, Lar Iracy Dantas de Andrade e Asilo São Vicente de Paulo. Os atendimentos são fornecidos por meio dos Cras (Centros de Referência e Assistência Social).
Segundo Ivete Berkenbrock, atualmente as instituições são fiscalizadas permanentemente. “Essas instituições sofreram uma grande transformação, o serviço de vigilância é muito atento. Além da vigilância, elas têm estímulo para capacitar os funcionários”.
Queda é um dos grandes riscos para quem mora sozinho
As quedas são um grande fator de risco para idosos que moram sozinhos, mesmo com boas condições de saúde. Segundo o Ministério da Saúde, 40% dos idosos com 80 anos ou mais sofrem uma queda ao menos uma vez por ano. Em asilos e casas de repouso, a frequência de quedas é de 50%.
Entre as principais causas estão distúrbios de equilíbrio, vertigem, confusão mental, fraqueza, tontura, alteração postural/hipotensão ortostática e lesões do Sistema Nervoso Central. As mulheres são mais atingidas. Entre os principais fatores de risco estão idade avançada (80 anos ou mais), história prévia de quedas, imobilidade, baixa aptidão física, fraqueza muscular de membros inferiores, equilíbrio diminuído, marcha lenta com passos curtos, dano cognitivo, doença de Parkinson e uso de sedativos e outros medicamentos.
“O risco de quedas é grande. A pessoa pode cair em casa e ficar o dia inteiro sem se levantar”, diz a médica geriatra Ivete Berkenbrock”. Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, os acidentes são a sexta causa da morte entre idosos. A SBGG lançará uma campanha para prevenir quedas no dia 19 de julho.